Páginas

13 de jun. de 2013

A vida não é um filme. A liberdade não tem haver com fronteiras. Durante muitos anos de minha vida eu desejei ser livre, queria conhecer cada pedacinho deste mundo, eu ainda quero, mas isto, isto não é liberdade. A liberdade é uma coisa tão preciosa e somente os seres humanos mais admiráveis possuem. Não tem a ver com números, tem a ver com saber o que é melhor para você, não sentir  medo. Eu escolhi deixar de tentar ser feliz, porque felicidade são momentos. Quero ter medos, dramas, histórias, decepções, tristezas, alegrias. Quero que minhas lágrimas escorram, quero senti-las. A vida é uma coletânea de sentimentos.  Se você não os sente, se você não dança a musica, a vida simplesmente perde o sentido.

Meu nome é Luz, morri em 20 de janeiro de 1942, ninguém sabe de minha existência porque  tomaram as mãos que eu podia ter escrito minhas memorias. Arrancaram a liberdade que eu tinha de poder viver tranquilamente, como eu desejei ser um soldado Nazista, isso pode parecer egoísta, mas quando se perde a vida a vergonha que sentimos de falar sobre algumas coisas se vão. Neste mesmo dia vi minha mãe chorar sobre corpo. Oh, como nós compartilhamos a dor de uma briga pelo poder. Vidas e vidas por territórios, se deixei transparecer meu  rancor, perdoem-me, não consegui esquecer, não consegui perdoar. Nasci em 1925 na União Soviética. Eu tinha medos, tinha sonhos. Eu era uma sonhadora, queria eu poder ter sido atriz, ter me casado e conhecido a Argentina, mas em tempos de guerra os planos mudam, nestes tempos,  o único sonho que eu podia ter era continuar viva.

 Morri logo no começo da batalha de Stalingrado. Recordo-me destes momentos como se tivessem acontecido ontem. O sangue estava em meus olhos. Eu vi tragedias, vi mortes, senti a dor. As pessoas corriam, se escondiam, por todo canto havia desespero. Malditos aqueles que mataram meu irmão, vê-lo no chão, morto por ter levado dois tiros no coração me transformou em um ser humano amargurado, a coisa que eu mais prezava na vida era a alegria de viver, me tiraram isso. A minha morte, eu não tive a dignidade de ver porque fui atingida pelas costas, não cheguei a ver o rosto do meu assassino Antes de morrer senti as lágrimas de minha mãe caindo sobre meu rosto, vi o desespero nos olhos dela antes que os meus se fechassem. A unica coisa que imploro é que ela tenha sobrevivido a guerra. Não posso saber, não consigo senti-la. O meu nome Luz, hoje representa alguém que eu fui, mas que apagaram por alguns trocados.

16 comentários:

  1. Dizem que a liberdade é igual a bondade, e que ambas andam juntas. Ser livre é ir dormir com a certeza de que não fez mal a ninguém, mesmo porque a liberdade de todo mundo acaba quando a do outro começa.
    Dizem também que a felicidade é característica humana, ou seja, ela existe dentro de cada um, a gente é feliz, o que a gente não sabe é prestar atenção para os pequenos e simples momentos onde a felicidade mora.
    E sim, somos e não somos inteligentes ao mesmo tempo, fazemos guerra, nos fazemos de surdo, mudo, cego, somos individualistas, somos egoístas, somos de todas as criaturas a mais imperfeita, em relação aos outro, a natureza, ao mundo.

    Mas é a vida, é a vida.
    Boa noite. "_"

    ResponderExcluir
  2. Uau... Que texto intenso e belíssimo em sua forma chocante de tristeza.

    Adorei a forma como você encaixou tudo na História, na guerra. Ficou muito bem elaborado. Perfeito. Os sentimentos nos saltam aos olhos e o coração se enche de mágoa, raiva e desespero; um misto de sensações que só a guerra nos causa. E o medo iminente que estoure uma a qualquer outro momento (seja ela civil, travada no rotineiro dia-a-dia).

    Adorei, Camila.

    Beijos.

    ResponderExcluir
  3. Nossa que texto intenso e ao mesmo tempo triste.
    Venha participar do nosso sorteio
    Big Beijos
    Lulu On The Sky

    ResponderExcluir
  4. Escreveu de tal forma que me deixou sem palavras. Lembro ainda do meu professor explicando as revoluções da Russia, Lenin, Stalin, Domingo vermelho... Não há nada melhor do que um pouquinho de história misturado a poesia.

    Tenha uma ótima semana.

    ResponderExcluir
  5. R:. Obrigada (:
    * A seguir o blog

    ResponderExcluir
  6. Podes ter a certeza de que li este textinho, e aprovo.
    Gosto muito dele, simples, tal como gosto.
    A complexidade encontra-se nos textos, e a tua escrita é profunda, prende por isso. Adorei! Não consigo arranjar melhor expressão para o definir.
    Os teus posts são qualquer coisa de muito bom! Rendi-me ao teu blog.
    Obrigada, muito obrigada mesmo! Fico tão feliz :)
    Sigo, e serei uma seguidora atenta *
    Uma ótima semana!

    ResponderExcluir
  7. oh a sério que achas? muito, muito obrigada :))

    ResponderExcluir
  8. Muito obrigada querida pelo teu comentário (:

    ResponderExcluir