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12 de jan. de 2012

Sentou-se. Olhou. Desesperou-se. Não havia mais nada a ser dito, todas as palavras haviam sido gastas em vão, ou ao menos havia tentado usá-las. Obstinações destruídas, assim como um punhado de sentimentos que desfragmentavam-se e deixavam-se levar pelo frio e agitado vento de agosto, que fazia as folhas das árvores dançarem ao seu compasso.
Observava o céu cor chumbo, que carregava consigo as tristes gotas de chuva. Naquele cinza, toda a sua dor era minuciosamente refletida e não havia nada que ele pudesse fazer para apagar o que fora consumado... Mas, repentinamente um delírio insano o fez retroceder. Levantou-se e pôs-se a caminhar em curtos e descompassados passos.
Suas mãos trêmulas tentavam se aquecer nos bolsos de seu sobretudo desbotado, enquanto a passos lentos marchava por aquelas velhas ruas; onde seus desmesurados alvitres ressurgiam das profundezas ermas de seu cerne. Não havia uma explicação concreta, ele apenas deveria continuar, mesmo que no final ficasse novamente despedaçado. Ah, despedaçado, esta palavra fora tatuada em sua alma, desde o dia em que descobrira o amor. Ele iria até aquela porta novamente e lá bateria mesmo que fosse sua ultima ação.
Uma espécie de suicídio sentimental possuía-o ao mesmo tempo em que um buraco passional abria-se e lentamente sangrava. Avançava pelas ruas enquanto sentia os pingos de chuva acariciando-o e trazendo algum reconforto solitário. Em meio aos seus delírios febris ele avançou até a porta. Aquela porta que por tanto tempo havia atravessado para encontrar seu misto de dor e prazer. Por onde incontáveis vezes ele bateu, esperançoso por saber que do outro lado existia alguém que sorridentemente abria-a. Uma lágrima salgada atravessou-lhe a face discretamente e um novo sentimento espontaneamente surgiu; era um dor diferente de toda aquela que ele sentiu na sua pequena existência.
Continuou. Subliminarmente ensaiava as velhas palavras, das quais nunca ousara usufruir. Pouco metros à frente observou a velha porta e no mesmo instante seu coração pulsou tão forte, que fora possível ouvi-lo. Aproximou-se delicadamente, preparava-se para bater, quando algo no seu bolso chamou-lhe a atenção. Era pequeno e rústico. Tirou-o do bolso e lentamente examinou. “Existem certos momentos na vida onde é preciso sacrificar-se por um grande amor. Deixá-lo ir, mesmo que isso nos torture brutalmente.” Devolveu o papel a seu bolso e limpou as lágrimas. Chovia forte e em baixo dessa chuva ele voltou. Era dor, era amor, mas no fundo sempre foi solidão. Talvez, fosse chegado o momento de dizer adeus... Talvez todo esse tempo tivesse sido apenas outra adorável ilusão.

2 comentários:

  1. Por vezes é naquela solidão incontrastável cheia de desafios apaziguadores e falta de acção que encontramos a verdadeira forma de viver. Belas descrições. Abraço.

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  2. Porque dados amores têm prazo de validade.

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