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11 de out. de 2011

Alma Condenada.

O crepúsculo erguia-se vagarosamente no horizonte naquele frio e triste fim de tarde. Sentada à sua varanda, apreciava a brisa gelada que afagava seu rosto, enquanto em pequenos goles degustava seu amargo café, ao mesmo tempo em que delirava em vagas memórias febris. Sentia as velhas palavras queimando na sua garganta, enquanto tortuosamente limpava as lágrimas causadas pelas lembranças. Anos de solidão haviam-lhe proporcionado marcas tão visíveis, que nem seu vago e esbranquiçado sorriso conseguia esconder. Vagarosamente, ressalvava a fina e constante fumaça que esparzia da pequena e delicada xícara de porcelana, que tremia ao compasso de suas mãos inquietas e ansiosas. Era mais um anoitecer solitário, como tantos outros que haviam se passado, mas mesmo assim, continuava machucando como se fosse o primeiro. Reações causadas pelas múltiplas sensações que carregavam a dualidade da dor e do prazer explodiam no seu âmago, enquanto brevemente seu orgulho resplandecia, mostrando como aquele momento era, na verdade aquela que fora a melhor opção, para duas vidas tão discrepantes. Mas... Deliberadamente, alguma coisa oculta na escuridão erma do seu coração, chorava as tristes dores de um amor esquecido e uma vida destruída. Porém, como os velhos rabiscos dos seus poemas sentia-se incompleta e incansavelmente culpava-se por uma vida tão amargurada, quanto à canção de um velho bluseiro, que soava fria e distante. Seus olhos, não camuflavam mais suas lamurias e nem mesmo tempo cicatrizava as feridas. Mais uma vez tornou a observar o céu, cujo qual estava mergulhado na escuridão da noite; de alguma forma sentia que aquela escuridão era o reflexo do que havia sobrado para ela viver solitariamente até seus últimos dias.

Um comentário:

  1. Que lindo, frio e reflexivo.

    Não acredito no vazio e na solidão como forma de não-companhia. Pelo contrário, gosto de achar que esses momentos em que ficamos muito sozinhos, são os melhores para termos uma boa conversa com nós mesmos, nos curtirmos.

    Beijo.

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